DE PRÊMIO NOBEL
Ontem, qualquer coisa me levou ao verso
“passas em exposição
passas sem ver teu
vigia
catando a poesia
que entornas no
chão”
do Chico Buarque de Holanda. E a seguir me veio, do mesmo
autor:
E
te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia-luz.
Hoje, lembrei Caetano:
“Você não gosta de mim
não
sinto o ar se aquecer
ao
redor de você,
quando
volto da estrada
por
que será que é assim,
seja
de longe ou de perto,
no
errado ou no certo,
na
fúria ou na calma?”
Ainda do Caetano:
Tanta
gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda a
estrada, sobre toda a sala
Paira, monstruosa, a
sombra do ciúme.
Mas você pode preferir Arnaldo Antunes:
O meu lençol é o que
restou
É o que me aquece
sem me dar calor
Se eu não tenho o
meu amor
Eu tenho a minha dor
A sala, o quarto, a
casa está vazia
A cozinha, o
corredor
Se ela me deixou, a
dor é minha
A dor é minha dor
....
Ou, quem sabe, Lulu Santos:
Eu te amo calado
Como quem ouve uma
sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e
desejo
Somos feitos de
silêncio e som
Tem certas coisas
que eu não sei dizer.
(Imagina, então, se soubesse!)
Veja, agora, versos da poeta portuguesa
Florbela Espanca, que foram musicados e gravados por Fagner:
Longe
de ti, são ermos os caminhos,
Longe
de ti não há luar, nem rosas
Longe
de ti, há noites silenciosas,
Há
dias sem calor, beirais sem ninhos.
Versos de
Fernando Pessoa:
Para
ser grande, sê inteiro:
Nada
teu exagera ou exclui
Põe
quanto és no mínimo que fazes.
Assim,
a lua toda no lago brilha
Porque
alta vive.
Com estes
versos dos poetas portugueses você tem base para comparar a obra erudita,
deles, com a de alguns de nossos poetas do cancioneiro popular.
Feitas as
contas, qualquer dos nossos, dentre tantos outros, faz jus ao Nobel de Literatura. Com a vantagem de que, se premiado, iria a Oslo receber,
por certo.