BRÓGUI
Quando
finalmente decidi fazer o blog, pensei
"Vou nomeá-lo "Meu Brógui", em homenagem às pessoas simples,
perseguidas por aqueles que se perturbam
com seu modo de falar.
Quando
jovem, trabalhei num escritório que tomou a seu serviço um garoto de uns doze anos, oriundo do nordeste
brasileiro, região onde as pessoas têm bastante imaginação no uso da palavra e
que por isso, contrariamente ao nosso costume de chamar os meninos de José,
Antônio, Ricardo, batizam-nos de Sigmaringa! Ozualdo! Audálio!
Essas
pessoas têm audácia, mas antes têm imaginação, e inovam sem qualquer falso
pudor.
Voltando ao escritório e ao garoto de doze anos, pelo Natal o “patrão”,
além do salário, pagou também uma gratificação.
O garoto ficou tão feliz que, de pronto, desejou retribuir ao empregador –
como? - comprando-lhe um
"vrido" de vinho!
A
atitude foi tão fidalga, e tão espontânea, que embora tendo registrado, não
desejei corrigir o “vidro”. Que permaneceu na minha memória como um
"vrido" de elegância.
O
tempo passou e encontrei, depois do
"vrido", o "frilto". Aquele para água, manja? E permaneci apenas observando, sem interferir no que considero um terreno
pessoal, esse, onde o seu ouvido ignora as formas mais fáceis e adota as mais
complicadas, para usar com os lábios.
Então,
já mais recentemente, coisa de uns quinze anos atrás, eis que cruzo com uma
senhora muito simpática, mãe de Bruna, de Edmundo e de um outro, excelente
jogador de futebol, cujo nome, por banal, não consegui gravar. Pois essa
senhora, que conheci por admirar os “passes” desse filho mais velho na rua onde
se situa o mercadinho do bairro, morava “ali (dizia ela, apontando sua
casinhola feita com aquelas chapas de compensado recuperado de obras - não moro
no Morumbi, mas em frente ao meu prédio havia uma favela), naquele
“srobadinho”!
Agora
você, que apresentou trabalhos de teatro, na escola, sob orientação da
professora de Português, tente dizer “srobadinho”! Vamos lá, tente, eu espero.
Difícil,
não é?
E
aí você vê aquelas celeumas provocadas por pessoas que querem “simplificar”
obras de nossos escritores, para torná-las “acessíveis” ao nosso povo.
É
o mesmo que dizer que essas pessoas têm um defeito de nascença, que as
impossibilita de ler e entender porque é “difícil”. Difícil é o que elas criam,
por talento, esse, inato, e por desdém à chamada “norma culta”, da qual não
fazem a mínima questão. Ouçam as melodias (e as letras) do Djavan: já viram
algo mais imponderável? A melodia de Oceano? A letra de Oceano? “Dava prá ver o
tempo ruir” – Quem jamais ousou criar algo assim, tão louco e tão lindo? Você
poderá argumentar que o Djavan não é inculto - claro que não é! Mas de onde ele
vem? E o povo iletrado, de lá e de cá, acaso não o entende?
Nosso
povo não é burro, nem retardado, nem fala errado; fala diferente. Porque quer, não porque não sabe. Ele
simplesmente não quer saber; sua maneira de falar é mais doce, mais melodiosa:
ao invés de dizer um "venha cá" autoritário, prefere o
"chegue", ou "se achegue", com aquela manemolência que a TV
faz questão de mostrar em cenas sensuais. Eles não dizem "o filho a seguir
a este" - preferem "aneixo", corruptela de anexo. Não é um luxo?
No Norte e Nordeste encontramos fraseado castiço, que não vemos por aqui.
Conservemos,
pois, intocadas, as obras de nossos autores, e deixemos o linguajar de nosso
povo, já tão prejudicado pela televisão.
Concluo:
por eles, pretendi criar o “Brógui”.
Mas
alguém chegou antes de mim. Por onde você vê que essas formas estão bem
disseminadas, quer gostemos, quer não.
O
povo é sábio, creia. E como tal, muito imitado.
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