sábado, 19 de novembro de 2016

DE PRÊMIO NOBEL


Ontem, qualquer coisa me levou ao verso

“passas em exposição
passas sem ver teu vigia
catando a poesia
que entornas no chão”

do Chico Buarque de Holanda. E a seguir me veio, do mesmo autor:

         E te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia-luz.

Hoje, lembrei Caetano:

         “Você não gosta de mim
                                     não sinto o ar se aquecer
         ao redor de você,
                                     quando volto da estrada
                                     por que será que é assim,
                                     seja de longe ou de perto,
                                     no errado ou no certo,
                                     na fúria ou na calma?”

                           
Ainda do Caetano:

                                     Tanta gente canta, tanta gente cala
                                     Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda a estrada, sobre toda a sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme.


Mas você pode preferir Arnaldo Antunes:

O meu lençol é o que restou
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor

A sala, o quarto, a casa está vazia
A cozinha, o corredor
Se ela me deixou, a dor é minha
A dor é minha dor ....

Ou, quem sabe, Lulu Santos:
                                     
Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer.

(Imagina, então, se soubesse!)


Veja, agora, versos da poeta portuguesa Florbela Espanca, que foram musicados e gravados por Fagner:

                            Longe de ti, são ermos os caminhos,
                            Longe de ti não há luar, nem rosas
                            Longe de ti, há noites silenciosas,
                            Há dias sem calor, beirais sem ninhos.

         Versos de Fernando Pessoa:

                            Para ser grande, sê inteiro:
                            Nada teu exagera ou exclui
                            Põe quanto és no mínimo que fazes.
                            Assim, a lua toda no lago brilha
                            Porque alta vive.

         Com estes versos dos poetas portugueses você tem base para comparar a obra erudita, deles, com a de alguns de nossos poetas do cancioneiro popular.


         Feitas as contas, qualquer dos nossos, dentre tantos outros, faz jus ao Nobel de Literatura. Com a vantagem de que, se premiado, iria a Oslo receber, por certo.

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